sexta-feira, 16 de abril de 2010

O Mito da Razão

Uma das coisas mais interessantes que estudei na faculdade Direito este semestre foi sobre o sentido amplo do mito, nas aulas de Filosofia. Este assunto me permitiu o contato com a obra de Kolakowsky, tendo eu lido o seu livro "A Presença do Mito". O livro, apesar da leitura difícil e por vezes maçante, abriu a minha mente par a o que é enxergar e explicar a realidade.
Kolakowsky vai além do conceito religioso de mito. Mito é tudo aquilo que assumimos como um constructo social, sendo tido como uma verdade absoluta e imutável, que não permite correções, embora seja altamente moldável à realidade fática. Assim, o mito pode ser político, social, econômico, etc. Um exemplo de mito político é o que hoje é o marxismo ideológico, que para não sucumbir o seu modo de pensar ao mundo real, simplesmente assume verdades para justificar a teoria, como dizer, por exemplo, que a União Solviética não era verdadeiramente marxista.
Mas o que mais me impressionou na explanação de Kolakowsky foi a radicalidade de suas ideias. Para ela, a própria razão é um mito.
O conhecimento racional se diferencia do mítico por ser lógico, empírico, inadaptável embora relativo, ou seja, se uma teoria não descreve a realidade, ela é suplantada por outra que melhor o faz. O conhecimento racional não molda a realidade, é moldado por ela. Diferente do mítico, que molda a realidade dentro daquilo que afirma.
Não se pode dizer que um conhecimento mítico é errado (conforme fazem os ateístas), mas apenas que ele não é racional. Visto que o mito é uma forma de explicar o mundo diferente da razão.
E aí entra o pulo do gato do autor, acreditar que a razão é a forma correta de explicar o mundo é um mito. Acreditar na verdade da razão é um constructo social, que não permite questionamento, é absoluto. Ou seja, é mítico.
Falar que a razão é a forma correta de explicar o mundo, como pregavam os gregos e como acreditamos hoje no século XXI, não é racional. É tão mítico como acreditar que Deus criou o mundo.
E não é que faz sentido!

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